TV e Religião: em nome de Deus?
Em nome de
Deus?
Ligar a
televisão no horário nobre e ver um líder religioso utilizando o espaço para
pregar e buscar fiéis é algo que parece fora do lugar. E é. Não por ser uma
manifestação religiosa, algo que é parte da cultura brasileira, mas por tornar
evidente que um espaço público está sendo utilizado para fins
privados.
O mundo todo
discute como equilibrar os direitos à liberdade de expressão e à liberdade de
crença, previstos em diversas Constituições, inclusive na brasileira. Há várias
questões aí envolvidas. Primeiramente, manifestações religiosas devem ou não ser
permitidas em veículos de comunicação que são concessões públicas, como rádio e
TV? Se sim, deve ser permitido também o proselitismo religioso, ou seja, a
prática de tentar "vender seu peixe" e conquistar fiéis?
Na busca de
respostas, é preciso pensar como esse tipo de manifestação ajuda ou afeta a
liberdade de crença – que é maior do que a liberdade religiosa e inclui até o
direito de não se ter religião. E lembrar que, para outras manifestações
similares, como o proselitismo político, já há um consenso sobre a necessidade
de regras claras para que espaços públicos não sejam tomados por grupos
específicos.
Apropriação
indevida
No caso das
religiões, deve-se perguntar, também, como garantir às distintas manifestações
de fé o mesmo direito, já que não chegam a 2% as denominações religiosas
presentes no Brasil que têm espaço em meios de comunicação. Deve-se também
impedir que esses espaços sejam usados para ataques a outras religiões, como os
que sofrem as denominações de matriz africana.
E há questões
estruturais também fundamentais. Deve-se permitir canais inteiramente
controlados por grupos religiosos, o que é proibido na maioria das democracias?
Deve-se permitir o arrendamento de espaço – ou mesmo de canais inteiros – no
rádio e na TV? Será que essa prática não configura uma verdadeira grilagem
eletrônica, pela apropriação privada de um espaço público? Sejam quais forem as
respostas, o nome de Deus não pode ser usado como álibi para evitar esse debate
no Brasil.
Fonte: Observatório
da Imprensa
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EI ESCREVE ALGUMA COISA AI