A Verdadeira história de Chapeuzinho - Vermelho
Essas narrativas são na verdade fábulas, que contadas há séculos e documentadas aproximadamente no XVII. Tinham o intuito de ensinar as crianças sobre algum assunto.
Nessa época era difícil ter acesso a cultura escrita e ensinamentos, tarefa que era delegada aos pais. Utilizavam-se dessas histórias para exemplificar e advertir seus filhos na passagem da infância para a vida adulta.
Com jogos psicológicos, esses ensinamentos eram passados de uma maneira muito rústica e eficaz, amedrontando.
Leia uma versão traduzida do conto de Chapeuzinho-Vermelho e perceba o tom de ameaça que era apresentado às crianças européias do século XVIII. A versão original deste texto era cantada e com rimas.
[Chapeuzinho - Vermelho * Versão
Primitiva]
Uma mulher havia terminado de assar pães.
Pediu que sua filha levasse pão e um pote de
creme para sua avó que vivia numa cabana na floresta.
A garota saiu, e no caminho, encontrou um
lobisomem.
O lobisomem parou a garota e
perguntou,
“Aonde você vai? O quê carrega?”
“Vou para casa da minha avó”, disse a garota,
“e levo pães e creme”
“Por qual caminho você irá?” perguntou o
lobisomem.
“O Caminho das Agulhas ou o Caminho dos
Alfinetes?”
“Eu irei pelo Caminho dos Alfinetes,” disse a
garota.
“Ora, então eu irei pelo Caminho das Agulhas,
e veremos quem chega lá primeiro”
A garota continuou, o lobisomem idem, e
chegou à cabana da avó primeiro.
Ele rapidamente matou a senhora e a engoliu -
exceto por um pouco de carne, que pôs na prateleira da despensa, e um pouco de
sangue, que ele colocou em uma garrafa.
Então o lobisomem se vestiu com as roupas da
avó e se deitou na cama.
Quando a garota chegou, o lobisomem a mandou
entrar.
“Avó,” disse a garota, “Minha mãe me mandou
trazer um pão e creme”
“Coloque-os na despensa, minha netinha. Você
está com fome?”
“Sim, vovó”
“Então cozinhe a carne que você encontrará na
prateleira. Está com sede?”
“Sim, vovó”
“Então beba o vinho que você encontrará na
prateleira logo acima, minha netinha”
Enquanto a menina cozinhava e comia a carne,
um gato falou:
“Você está comendo a carne de sua
avó!”
“Jogue seu sapato nesse gato barulhento”
Disse o lobisomem, e assim ela o
fez.
Enquanto bebia o vinho, um pássaro disse:
“Você está bebendo o sangue de sua
avó!”
“Jogue seu outro sapato nesse pássaro
barulhento”
Disse o lobisomem, e assim ela o
fez.
Quando ela terminou sua refeição, o lobisomem
disse:
“Está cansada da caminhada, minha netinha?
Então tire suas roupas”
“Venha para a cama e eu a
aquecerei”
“Onde eu devo colocar meu avental,
vovó?”
“Jogue-o no fogo, minha netinha, pois você
não precisará mais dele.”
“Onde eu devo colocar o meu corpete,
vovó?”
“Jogue-o no fogo, pois você não precisará
mais dele.”
A menina repete essa pergunta para sua saia e
suas meias.
O lobisomem dá a mesma resposta, e ela joga
cada item na lareira.
Quando ela chega na cama, diz ao
lobisomem:
“Vovó, como você é peluda!”
“Para te manter aquecida, minha
netinha”
“Vovó, que braços grandes você
tem!”
“Para te manter junto a mim, minha
netinha”
“Vovó, que orelhas grandes você
tem!”
“Para ouvi-la melhor, minha
netinha”
“Vovó, que dentes grandes você
tem!”
“Para te devorar melhor, minha
netinha”
“Agora venha e se deite ao meu
lado”
“Mas primeiro eu preciso ir ao
banheiro”
“Faça na cama, minha netinha”
“Eu não posso. Preciso ir lá fora,” a menina
disse.
Pois agora ela sabe que é o lobisomem
mentindo na cama de sua avó.
“Então vá lá fora,” o lobisomem
concorda.
“Mas volte logo. Eu irei amarrar um cordão no
seu tornozelo para saber onde você está”.
Ele amarra seu tornozelo com um cordão
robusto, mas logo que a garota está do lado de fora, corta-o com sua tesoura e
amarra o cordão numa árvore de ameixas.
O lobisomem, ficando impaciente,
chama-a:
“Ainda não terminou, minha
netinha?”
Quando ninguém responde, ele a chama
novamente.
“Você está aguando a grama ou adubando as
árvores?”
Nenhuma resposta. Ele então pula da cama,
segue o cordão e não a encontra.
O lobisomem a persegue, e logo a menina pode
ouvi-lo na trilha atrás dela.
Ela corre e corre, até alcançar um rio
profundo e de forte correnteza.
Algumas lavadeiras trabalham na beira do
rio.
“Por favor, ajude-me a atravessar”, ela
diz.
As lavadeiras estendem um lençol sobre a
água, segurando firmemente as pontas.
Ela atravessa a ponte de tecido e logo está
segura no outro lado.
O lobisomem então alcança o rio, e pede às
mulheres que o ajudem a atravessar.
Elas estendem o lençol sobre a
água.
Mas quando ele está no meio da travessia, as
lavadeiras soltam o lençol.
O lobisomem cai na água e se
afoga.
Não acredita? Então confira o original!
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Existem diversas versões “assustadoras” para o padrão atual, onde a menina podia levar o vinho, sua mãe a advertia sobre se desviar do caminho (ação que ela comete), o caçador não a ajudava, que o lobo vestia-se com a pela da avó, enfim diversas variantes para a mesma história.
Representa o conto Chapeuzinho Vermelho através de um estudo sobre a caricatura e a importância dos contos para os não iluminados, ou seja, para os simples camponeses. Quem conta na representatividade psicanalista é Erich Fromm.
Segundo Fromm o conto primitivo camponês dos séculos XVII e XVIII representa o inconsciente coletivo constante no conto, que para ele, trata sobre a confrontação de uma adolescente com a sexualidade adulta.
Por meio da decodificação dos símbolos existentes no conto, Fromm conseguiu analisá-lo.
Os simbolismos encontrados por ele no conto para fundamentar sua análise são o chapeuzinho vermelho, simbolizando a menstruação, e a garrafa de vinho, (adaptada com a cesta de doces) que é um símbolo de virgindade. Os avisos dados pela mãe de chapeuzinho, para que não se desviasse do caminho, significariam o cuidado que deveria ter a menina para não quebrar a garrafa e perder seu líquido (hoje contada para não se perder), ou seja, “um alerta contra o perigo do sexo e de perder a virgindade”.
O lobo representaria o macho sedento por sexo e astucioso, que procura desviar a menina do caminho da virtude. O ato sexual um “ato canibal em que o macho devora a fêmea”.
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EI ESCREVE ALGUMA COISA AI